O capitalismo como sistema econômico faz com que a Ciência Contábil seja de suma relevância para o sucesso e controle das transações e movimentações financeiras de empresas, companhias e instituições que sustentam o mercado mundial.
Sabe-se que as relações econômicas envolvem credores e devedores, e, para salvaguardar o interesse de ambos, as informações divulgadas aos usuários das informações devem ser validadas por algo ou alguém, a fim de manter a confiabilidade das negociações, precisando assim, da área do conhecimento denominada de Auditoria Contábil.
Sobre o cenário brasileiro, as Normas Brasileiras de Contabilidade – NBC, direcionam a normatização acerca da conduta dos Auditores e do processo de Auditoria em nossa nação.
Com o objetivo de emitir o relatório sobre a adequação dos procedimentos aplicados, o auditor deve planejar seu trabalho consoante as Normas Profissionais de Auditor Independente.
Espera-se desse profissional conhecimento sobre a atividade econômica da entidade em que se audita, para que possua capacidade de julgar a relevância dos eventos, e extensão dos procedimentos a serem aplicados.
Conceitos e objetivos da auditoria
De acordo com as Normas de Auditoria Independente das Demonstrações Contábeis – NBC T 11, a auditoria classifica-se com a área contábil caracterizada pelo conjunto de procedimentos técnicos que tem por objetivo a emissão de relatório sobre a adequação das Demonstrações Contábeis auditadas.
Boynton, Johnson e Kell, em “Auditoria” escrevem que a auditoria trata-se de:
“um processo sistemático de obtenção e avaliação objetivas de evidências sobre afirmações a respeito de ações e eventos econômicos, para aquilatação do grau de correspondência entre as afirmações e critérios estabelecidos, e de comunicação dos resultados a usuários interessados.”
Técnicas e procedimentos de auditoria
O trabalho do auditor classifica-se, basicamente, como uma revisão das práticas adotadas e informações divulgadas em demonstrações contábeis e financeiras, por parte da entidade. Deste modo, devido ao extenso escopo e movimentações de algumas entidades, seria impossível auditar a totalidade das transações.
Neste contexto, a organização de seu trabalho leva em consideração a materialidade das informações apresentadas limitando seus testes por relevância e amostras a serem validadas.
Uma vez definida as áreas relevantes e as amostras de testes, chega-se a hora de aplicar os procedimentos. Os procedimentos de auditoria são o conjunto de técnicas que permitem a obtenção de evidências para fundamentar a opinião do auditor, dividindo-se em testes de observância e testes substantivos.
Testes de Observância
Tem por objetivo averiguar se os controles internos propostos pela administração da entidade são coerentes, e se, estão sendo posto em prática.
Testes Substantivos
Estão ligados a validação acerca da exatidão dados produzidos pelo sistema contábil da entidade, dividindo-se em testes de transações e saldos, e procedimentos de revisão analítica.
Ademais, listamos os principais procedimentos de auditoria:
- Contagem física (comumente chamado de “Inventário”;
- Confirmação com Terceiros;
- Conferência de Cálculos;
- Inspeção de Documentos;
- Observação;
- Reexecução;
- Procedimentos Analíticos;
- Indagação
Revisão de controle interno
A prática de controle interno dentro das entidades tem por objetivo fundamental a prevenção de erros e fraudes. Vale ressaltar que o sistema de controle é de responsabilidade da administração da entidade, estando o auditor submetido a análises, a fim de propor sugestões objetivas para seu aprimoramento, decorrentes de constatações feitas no decorrer do seu trabalho.
Diversos autores definem o controle interno como o conjunto de procedimentos, métodos ou rotinas com os objetivos de proteger os ativos, produzir dados contábeis confiáveis e ajudar a administração na condução ordenada dos negócios da empresa.
Ademais, podemos afirmar que o sistema de controle interno compreende o plano de organização e o conjunto coordenado de métodos e medidas, adotados pela empresa, para proteger seu patrimônio, verificar a exatidão e a fidedignidade de seus dados contábeis, promover a eficiência operacional e encorajar a adesão à política traçada pela administração.
Ressalta-se que este sistema é subdividido em dois: Controles Internos Contábeis e Controles Internos Administrativos. Vamos ver abaixo:
Controles Contábeis
Compreendem o plano de organização e todos os métodos e procedimentos relacionados com a salvaguarda do patrimônio e propriedade de registros contábeis.
Abaixo, listamos exemplos de controles contábeis:
- Sistemas de conferência, aprovação e autorização;
- Segregação de funções (pessoas que têm acesso aos registros contábeis não podem custodiar ativos da empresa);
- Composição de contas contábeis;
- Arquivamento de documentos que comprovem as transações registradas pela Contabilidade;
- Controles físicos sobre ativos;
- Auditoria interna.
Controles Administrativos
Compreendem o plano de organização, métodos e procedimentos relacionados com a eficiência das operações voltadas para a política de negócios da companhia e, indiretamente, com os registros financeiros.
Exemplos de controles administrativos:
- Análises estatísticas de lucratividade por linha de produtos;
- Controle de qualidade;
- Treinamento de pessoal;
- Estudos de tempos e movimentos;
- Análise das variações entre os valores orçados e incorridos;
- Controle dos compromissos assumidos, mas ainda não realizados economicamente.
A implantação de controle interno promove maior credibilidade à entidade executora, uma vez que, manuais e práticas previamente organizados são instalados. Contudo, como todo e qualquer sistema é passível de erros, cabe ao auditor realizar atividades sobre este.
Em 1985, foi criado um comitê para se prevenir e evitar fraudes nos procedimentos e processos internos da empresa. O Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission – COSO é responsável pelo estudo dos fatores que geram a criação e elaboração de relatórios fraudulentos, bem como, é este Comitê que elabora recomendações para companhias abertas e seus auditores independentes.
A prática de controle vem ganhando espaço nas políticas internas das entidades, apresentando-se como uma oportunidade de negócio para contadores. A seguir estão listados os princípios fundamentais desta natureza de trabalho:
a) Responsabilidade: as atribuições dos funcionários devem ser adequadamente definidas e limitadas;
b) Rotinas internas: através de manual, a empresa deve definir todas as suas rotinas;
c) Acesso aos ativos: a empresa deve limitar o acesso dos seus funcionários, estabelecendo controles físicos;
d) Segregação de funções: a mesma pessoa não pode ter acesso aos ativos e aos registros contábeis;
e) Confronto dos ativos com os registros: estabelecimento de controles para que os ativos sejam periodicamente confrontados com registros;
f) Amarrações do sistema: o sistema de controle interno deve ser concebido de maneira que sejam registradas apenas as transações autorizadas, por seus valores corretos e dentro do período de competência.
g) Auditoria interna: verificação periódica do cumprimento do que foi determinado;
h) Custo x benefício: O custo do controle interno não deve exceder seu benefício.
i) Limitações do controle interno: estes limites relacionam-se, basicamente, à existência de conluio de funcionários, funcionários não instruídos adequadamente sobre as normas internas, e, por fim, funcionário negligentes.
Papéis de trabalho
O auditor deve colher elementos comprobatórios suficientes a fim de apoiar o seu relatório sobre as demonstrações contábeis (balanço patrimonial, demonstração do resultado do exercício, demonstração das mutações do patrimônio líquido, demonstração dos fluxos de caixa, demonstração do valor adicionado e notas explicativas).
Com a finalidade de atender a essa norma, os auditores elaboram papéis de trabalhos que representam o registro de todas as evidências obtidas ao longo do serviço de auditoria.
Attie em seu livro “Auditoria: Conceitos e Aplicações”, de 1984, traz a definição de papéis de trabalho como “o conjunto de formulários e documentos que contêm as informações e apontamentos obtidos pelo auditor durante seu exame, bem como as provas e descrições dessas realizações, os quais constituem a evidência do trabalho executado e o fundamento da sua opinião.”
Após o término do trabalho, revisam-se os papéis para garantir que o serviço foi executado de acordo com o previsto em norma. Ao revisá-los, o auditor assume a responsabilidade de que foram cumpridas as normas e que o objetivo do trabalho foi alcançado.
Vamos para a prática? Se você tem curiosidade de ingressar nessa área, ou iniciar a prestação desse tipo de serviço, é interessante que já comece o processo de treinamento. Como auditora, indico sempre as análises relativas às contas de resultado de uma organização.
Testes de receitas, despesas e custos
O teste dessas transações consiste em o auditor verificar se os valores foram registrados dentro do regime de competência, se foram aprovados, se estão de acordo com a natureza dos negócios da companhia, se existe documentação suportando a operação e se a classificação contábil foi adequada.
Adicionalmente as receitas são testadas para subavaliação, ou seja, o auditor parte do documento para a razão geral, enquanto as despesas e os custos são auditados para a superavaliação, o que significa que o auditor deve partir da razão geral para o documento. (Almeida, 2012)
Testes das Receitas
Os testes relativos às contas de receitas são definidos com base na natureza da transação que gerou esse benefício à entidade. Diante disso, a forma como o auditor irá aplicar seus procedimentos varia.
Por exemplo, ao auditar as receitas de empresas de construção civil é indispensável a análise de boletins de medição de obras, orçamentos etc. De forma geral, são solicitados os documentos que formalizam e comprovam a ocorrência da movimentação (notas fiscais, relatórios de faturamento, boletos emitidos), analisa-se o processo de contabilização e o somatório dos valores relacionados.
Testes das Despesas e dos Custos:
Para auditarmos esses dois grupos de conta, é necessário que ocorra uma segregação entre estes dois grupos contábeis, que já vêm definidos na estrutura da Demonstração do Resultado.
Posterior à fase de análise, é salutar que o auditor avalie:
- Despesas que possuem material e relevante com as contas do balanço patrimonial;
- Os controles e registros das aquisições de matérias-primas e serviços;
- A formação do custo de vendas;
- A composição tributária da organização, assim como a sua conformidade as leis tributárias do país;
- Os registros contábeis de Folha de Pagamento;
- Outras despesas e gastos gerais que apresentarem materialidade e relevância.
Para a auditoria de aquisição de matérias-primas e serviços é relevante que o profissional busque conferir o valor selecionado no registro na documentação comprobatória, atentando-se para a autenticidade do documento; conferir a nota fiscal do fornecedor, juntamente a sua cotação, a fim de evidenciar se o menor preço foi o escolhido; verificar adequação contábil do registro; verificar se os encargos registrados na nota estão de acordo com a natureza da transação e seus valores, devidamente, calculados.
Os custos de vendas estão interligados às movimentações ocorridas nas contas de estoque. Sendo assim, definimos que as entradas e os saldos inicial e final dos estoques são testados diretamente para superavaliação e indiretamente para subavaliação, por ocasião da auditoria em outras contas do balanço patrimonial e demonstração do resultado do exercício.
A fim de averiguar a fidedignidade dos saldos apresentados acerca das despesas com tributos, é relevante aplicar os seguintes procedimentos de auditoria:
- Verificar se estão de acordo com a legislação vigente;
- Conferência dos cálculos;
- Verificar escrituração nos livros fiscais, quando aplicável;
- Inspecionar guias quitadas.
Sobre os testes de auditoria relacionados às despesas com folha de pagamento, é preciso que o valor contabilizado na razão seja confrontado com o resumo da folha de pagamento, deve-se também atentar para o somatório dos valores pagos, com o intuito de validar os saldos apresentados.
Vale ressaltar, que é importante que sejam feitos testes analíticos, para perceber se os valores de salários a pagar no resumo da folha, foram pagos da forma correta a seu respectivo funcionário.
Outras despesas e gastos gerais, materiais e relevantes são testados com base na verificação da classificação contábil da transação, inspeção da documentação comprobatória da movimentação, e deve-se observar se o registro da referida despesa está em observância ao Princípio da Competência.
Neste artigo, os principais conceitos da Auditoria Contábil foram listados, assim como as principais técnicas e procedimentos.
O intuito foi de evidenciar como o trabalho do auditor é colocado em prática, em meio a um universo de diversos números. O atual cenário econômico mundial, o crescimento das empresas, e a rotatividade das transações, traz à tona a necessidade da auditoria externa.
Anteriormente, esta natureza de trabalho encontrava-se vinculada a obrigatoriedades normativas, entretanto os CEO’s e líderes da atualidade enxergam na contratação desses serviços uma forma de aprimoramento de suas práticas internas, assim como uma validação de sua imagem perante a sociedade.
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